terça-feira, 23 de julho de 2019

Exercício de produção: lendas

Referente à história "Atração do Museu", do livro em quadrinhos "Assim na Serra Como no Céu: histórias de mistério e fé"


Lenda é uma história de caráter fantástico ou fictício, contada de geração em geração, que mistura fatos reais com irreais. Elas fornecem explicações sobre determinados acontecimentos que não apresentam conclusões científicas comprovadas. Como são passadas de forma oral, sofrem alterações e acréscimos de elementos e fatos, apresentando variações da mesma história.

Lenda não é mentira, também não é verdade.

Para muitos povos do passado, as lendas explicavam como a natureza funcionava. Por exemplo, os gregos antigos achavam que o trovão significava uma reação de Zeus, o deus mitológico que habitava o Monte Olimpo. No Brasil, existem muitas lendas, como a do Negrinho do Pastoreio, do Curupira e do Saci-Pererê.

Existem também as lendas urbanas. Elas são consideradas uma espécie de folclore moderno. Geralmente são historietas curtinhas ocorridas nos dias atuais. As mais famosas são a do Boneco do Fofão, que possuía uma faca dentro do corpo, e a música da Xuxa, “Doce Mel”, que, quando reproduzida ao contrário, revelava uma mensagem demoníaca. A lenda da boneca Lenci pode ser considerada uma lenda urbana porque foi criada recentemente e por tratar de algo sugestivo apenas, pois nem sequer é uma história com início, meio e fim.

Lenci, a boneca do Museu Municipal Casal Moschetti
E quando agrupamos tudo o que um povo valoriza, temos o folclore. Ele é o conjunto de tradições e manifestações populares formados pelas lendas, mitos, provérbios, danças e costumes de um povo. 

O folclore simboliza a cultura popular e apresenta grande importância na identidade de um povo, de uma nação. Para não se perder a tradição folclórica, é importante que as manifestações culturais sejam transmitidas através das gerações.

ANSCNC 2: história da boneca Lenci

Sugestão de exercício: 


Objetivo: 

Produzir um livro de contos e lendas de forma coletiva

Estratégias: 

Curiosidade: desenvolvida através da pesquisa dos contos
Produção textual: prática da escrita e narrativa dos acontecimentos
Criatividade: aplicada na ilustração dos contos

Táticas: 

- Registro de uma lenda ou conto antigo por meio de uma entrevista com familiares ou conhecidos;
- O registro pode ser por escrito, por gravação e áudio ou mesmo de vídeo;
- O aluno deve redigir o conto ou lenda em uma página de redação;
- O aluno pode desenvolver uma ilustração que acompanha o texto;
- O professor pode discutir com o aluno a escolha da ilustração através dos seguintes critérios:
- pensar antes de desenhar: critérios para escolha do desenho ideal;
- motivos pelos quais este desenho pode representar o conto: 
- é a cena mais importante do conto?
- todos os personagens devem aparecer no desenho?
- qual deve ser a posição corporal de cada personagem?
- qual deve ser a expressão facial de cada personagem?
- analisar os pontos de vistas dos personagens na ilustração;
- o uso das cores para a ilustração e seus critérios;
- o tamanho dos elementos na ilustração;
- a posição dos elementos: primeiro plano ou segundo plano;
- o cenário ideal para a ilustração. 


Sugestões:


Avaliar o texto e/ou as ilustrações de um conto ou lenda através dos critérios descritos nas técnicas acima antes de iniciar os trabalhos para que o aluno entenda o resultado que o exercício proporciona.

Os desenhos podem ser trocados entre os colegas para avaliação do grupo.

Os contos e os desenhos podem ser encadernados como um livro da turma, com capa produzida em sala de aula contendo o nome dos autores. 

Os trabalhos de ilustração podem ser expostos em local e momento específico, como o Dia das Bruxas. 




segunda-feira, 22 de julho de 2019

Desenhos para colorir

Selecionei alguns quadros do livro "Assim na Serra Como no Céu: histórias de mistério e fé" para colorização.

ANSCNC 2: história das Igrejas

ANSCNC 2: história do rosto da santa

ANSCNC 2: história do exorcismo

ANSCNC 2: história da boneca do museu

sábado, 20 de julho de 2019

Duplo sentido

Se você é um leitor atento, percebeu que todos os títulos das histórias do livro "Assim na Serra Como no Céu: histórias de mistério e fé" possuem duplo sentido. Também conhecido como ambiguidade, é um vício de linguagem que oferece duas interpretações para uma mesma expressão, geralmente resultando em humor ou ironia. Mas também pode ser falta de clareza e atenção na hora de se expressar.

A ambiguidade é resultado de uma construção textual que foge da norma culta. Apesar do problema de interpretação que esta construção gera, seu uso pode ser aplicado em alguns contextos, podendo ser utilizado em poesias, na linguagem do dia a dia ou mesmo na linguagem publicitária.

Exemplo em uma frase:

E o professor de natação, nada?

Sentido 1:  emissor da frase questiona se o professor de natação já chegou para trabalhar
Sentido 2: emissor da frase pergunta se o professor é um nadador de qualidade

Exemplo em uma expressão:

Soltando a franga!

Sentido 1: o sujeito da frase permitiu que uma galinha fugisse
Sentido 2: o sujeito da frase perdeu o controle emocional ou exagerou ao se expressar ou revelou um lado de sua personalidade que ninguém conhecia

Nas histórias que criei, cada título possui sentidos diferentes, ambos se adequam com o enredo da história em quadrinhos. Você consegue perceber os dois sentidos dos títulos das histórias?

Os dois sentidos dos títulos estão relacionados com a trama da história. Você consegue identificar onde estão as relações do sentido 1 e 2 com a história?

Eis as respostas:

Título da HQ
Sentido 1
Sentido 2
Praga de padre
Maldição que foi lançada pelo pároco
Pároco que incomoda a comunidade
Encarando a Santa
Enfrentando a entidade santificada
Colocando um rosto na estátua
Fé demais, fé de menos!
Algumas pessoas têm muita fé; outras têm pouca.
Neste caso, é preciso unir as palavras: Fede mais, fede menos. Muito fedor ou pouco fedor
Atração do museu
A boneca é a atração do museu.
O museu possui uma força que faz as pessoas irem visita-lo.




sexta-feira, 19 de julho de 2019

Relação entre texto e imagem na HQ

Em uma história em quadrinhos de qualidade, o texto do balão do personagem deve revelar sentimentos, pensamentos ou diálogos que estejam relacionados à trama. O texto não deve descrever a ação do personagem, pois a ação está sendo vista pelo leitor. Desta forma, o texto passa a ser redundante, tornando a leitura enfadonha.

Montei estes quadrinhos para exemplificar:













No primeiro quadrinho, vemos a personagem dando uma ordem ao personagem escada (que não aparece no quadro). Neste caso, a ordem dada está relacionada à trama. O fato da personagem segurar o espelho em frente ao rosto serve para reforçar a ideia de vaidade dela. Assim, a relação entre texto e imagem está correta, pois faz com que texto e imagem tenham caminhos paralelos na construção da história.

No segundo quadrinho, vemos a personagem conversando consigo mesma e relatando suas intenções correspondentes à ação de segurar o espelho em frente ao rosto. Neste caso, considera-se que a relação entre texto e imagem está incorreta, pois a fala não acrescenta nada à imagem, apenas a reforça. O leitor já percebeu o que está acontecendo no quadro não sendo necessário o reforço da ação.

Em alguns casos específicos, o reforço é necessário.

Como geralmente uma HQ é curta, deve-se resumir ao máximo o texto dos balões para evitar redundâncias, repetições e outras formas de escrita mais rebuscadas (desde que estes não sejam os objetivos da obra). Assim, tem-se a integração de texto e imagem.

Nos quadros abaixo, exemplos para aplicação em sala de aula podem ser utilizados. Neles, o aluno deve preencher os balões com a forma correta e com a forma errada para entender a diferença na relação entre texto e imagem em uma HQ. Nos quadrinhos à esquerda, o aluno deve escrever o texto cuja relação com a imagem funcione de forma complementar, utilizando o texto da maneira correta. O aluno pode escolher o tema que quiser. Nos quadrinhos à direita, o aluno deve preencher o texto do balão descrevendo a ação do personagem. Lembre-se, esta última maneira é a equivocada! Mas o aluno deve fazer o exercício para perceber a diferença.

Para uso em sala de aula

Quadrinho original - para uso do professor

Para uso em sala de aula
Quadrinho original - para uso do professor
Para uso em sala de aula
Quadrinho original - para uso do professor


quinta-feira, 18 de julho de 2019

O sentido da narrativa

Uma forte relação entre texto e imagem é fundamental para a dinâmica da leitura e para que a compreensão do leitor seja facilitada. Se retirarmos o texto de uma HQ, os desenhos perdem o sentido e o leitor não compreende o que acontece. Isso prova a força da relação entre o texto e a imagem.

Vamos fazer uma tentativa. Tente preencher os balões com diálogos, criando um novo sentido, que seja diferente da história original. Lembre que é possível criar uma história completamente diferente.

ANSCNC 2, página 32, quadrinhos 8, 9 e 10 - Para o aluno preencher os balões

ANSCNC 2, página 47, quadrinhos 1 a 6 - Para o aluno preencher os balões

Segue abaixo as versões originais para uso do professor.

ANSCNC 2, página 32, quadrinhos 8, 9 e 10
ANSCNC 2, página 47, quadrinhos 1 a 6


quarta-feira, 17 de julho de 2019

Ponto de vista do leitor

Na história “Fé demais, fé de menos”, que apresenta uma versão cômica do exorcismo ocorrido em Caravaggio em 1947, trabalhei com um elemento da narrativa indispensável para uma boa história: o ponto de vista do leitor.

Por exemplo, ao ler um livro de suspense, onde o detetive procura descobrir quem é o assassino, o leitor, evidentemente, sabe tanto quanto o detetive e não mais que ele. Neste caso, o leitor assume o ponto de vista do detetive. Mas se o livro é contado do ponto de vista do assassino, o leitor sabe mais do que o detetive, pois o assassino está sempre um passo à frente do policial.

Antes de produzir a história, o ponto de vista do leitor é parte do planejamento da escrita. Considerando que as informações sobre o exorcismo são imprecisas e que existem várias versões dos fatos, decidi que apenas o leitor saberia o que realmente está acontecendo. Todos os personagens percebem parcialmente o que está acontecendo, apenas o leitor compreende as confusões que a trama apresenta. Este ponto de vista soberano do leitor torna esta “comédia dos erros” mais engraçada.

Proposta de atividade:
- Identificar os quadrinhos da história onde o ponto de vista do leitor fica evidenciado;
- Fazer uma comparação entre os pontos de vista do leitor e do personagem nestes mesmos quadrinhos, descrevendo-os.

Exemplo: 
ANSCNC 2: página 52, quadrinho 12

ANSCNC 2: página 52, quadrinho 12: As freiras pensam que as batidas na porta fazem parte do ritual do exorcismo, da luta entre o padre e o demônio, mas o leitor sabe que o padre está batendo na porta porque tem pressa para usar o banheiro. E não há banheiro dentro da igreja.

Agora, vamos analisar 5 exemplos de pontos de vistas do personagem e do leitor em outros quadros da HQ. 

ANSCNC 2: página 46, quadrinho 6
ANSCNC 2: página 46, quadrinho 6:
- Ponto de vista dos personagens:  Os colonos têm certeza de que encontraram a mulher que está possuída pelo diabo.
- Ponto de vista do leitor: O leitor sabe que as dicas dadas pelas freiras se referem a outra mulher, e não a esta que será capturada.

ANSCNC 2: página 47, quadrinho 6
ANSCNC 2: página 47, quadrinho 6: 
- Ponto de vista do personagem: Giuseppe acha que precisa ser exorcizado como forma de penitência. 
- Ponto de vista do leitor: O leitor sabe que o padre estava falando com o coroinha, não com o Giuseppe. 

ANSCNC 2: página 48, quadrinho 1
ANSCNC 2: página 48, quadrinho 1:
- Ponto de vista do personagem: O coroinha (que segura o livro) escolhe o livro mais assustador avaliando a capa conforme seus próprios medos. 
- Ponto de vista do leitor: O leitor sabe que é um livro de culinária e não de exorcismo. 

ANSCNC 2: página 49, quadrinho 5
ANSCNC 2: página 49, quadrinho 5:
- Ponto de vista do personagem: Assustadas com o exorcismo, as freiras pensam que a fumaça preta é o final dos tempos. 
- Ponto de vista do leitor: O leitor sabe que a fumaça preta veio do motor do carro e não é um fenômeno paranormal.

ANSCNC 2: página 49, quadrinho 9
ANSCNC 2: página 49, quadrinho 9:
- Ponto de vista do personagem: O padre certifica-se de que a mulher está realmente possuída por falar uma língua que ele não conhece.  
- Ponto de vista do leitor: O leitor sabe que ela é a mulher errada e que ela não está possuída pelo diabo. A mulher que recebeu a possessão do diabo fugiu. 



terça-feira, 16 de julho de 2019

O uso de referências nos quadrinhos

A nona arte apresenta uma linguagem dinâmica que permite ao artista aproveitar-se de vários recursos objetivando a construção do significado e, em segundo plano, aplicar referências de autores maiores. As referências engrandecem o trabalho e conversam com o público que possui uma bagagem cultural mais elaborada. Além disso, a referência pode expandir o significado da obra, uma vez que os conceitos que circundam a obra original podem ser reaplicados ou readaptados pelo autor na sua versão, possibilitando uma análise mais profunda. Ainda assim, nem todos os leitores detectam as referências de forma fácil, o que pode ser um problema.

Em "Assim na Serra Como no Céu: a chegada dos imigrantes" usei deste recurso para retratar uma visão panorâmica de Porto Alegre. Como os imigrantes aportaram na capital em 1875, eu precisava mostrar a cidade de alguma forma. Não há muitas fotos deste período e o que pode se fazer é desenhar baseado em outras cidades daquela mesma época. No entanto, descobri um pintor que estava de passagem pela cidade e que elaborou algumas pinturas da cidade e do seu povo.

Pesquisando, descobri o pintor Herrmann Wendroth. Segue apresentação da Wikipedia:

Herrmann Rudolf Wendroth foi um mercenário e artista plástico alemão que veio para o Brasil em 1851, contratado para lutar na Guerra contra Rosas. Integrou a Legião Alemã que serviu no sul, cujos integrantes eram conhecidos pela alcunha de brummers, os "resmungadores".

Chegou ao Rio Grande do Sul por mar, parando primeiro em Rio Grande, e logo seguindo para Pelotas, onde passou preso alguns dias por arruaças. Depois esteve em Porto Alegre, Rio Pardo e Lavras do Sul, onde demorou-se mais explorando ouro nas minas da região.

Dali seguiu em viagem por diversas partes do interior do estado, fixando em aquarelas e desenhos os tipos humanos locais e a paisagem urbana e natural, num documento visual precioso daquela época, executado com grande sensibilidade estética e por vezes mostrando uma veia satírica. Faleceu em torno de 1860.





Esta última pintura eu adaptei para a HQ. Apesar da pintura ser de 1852, acredito que a cidade não tenha mudado a paisagem de forma radical em 20 anos. De qualquer forma, substitui o barco pelo modelo que os imigrantes navegavam.


Este recurso de uso de referências na elaboração de quadrinhos não é novo. Seguem alguns exemplos:

A balsa da Medusa (Géricault, 1819)
Asterix, o Legionário (1967). Por Goscinny e Uderzo. 

Lição de anatomia do Dr. Tulp (1632)
Asterix e o Adivinho (1975). Por Goscinny e Uderzo